segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

EE na Casa das Mimosas

A foto não é muito boa, mas acreditem que o sítio é lindíssimo...


Livro de Horas

Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,

e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono das minhas horas
O das facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.

E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!

Miguel Torga

1 comentários:

fatimarques disse...

Olá!

Sobre a Csa das Mimosas...

Assim que chegámos ao topo, em noite de frio e chuva, cheios de fome e depois de um pedaço de mau caminho, aquela casa surgiu na escuridão da noite... No meio da serra, branca, de repente, como um farol, misteriosa...há tanto que ansiavamos por ela...

Estava fria, assim como ficam as casas quando estão vazias, quando não há vida lá dentro. Só paredes e portadas fechadas...

No entanto, casa... que protege, que acolhe, que nos convida a entrar, principalmente nas noites escuras, quando a tempestade e a ventania nos fustigam...

E foi vê-la alegrar-se, amornar-se e mostrar-nos o quanto somos importantes para ela...

Enquanto lá estive imaginei o quão diferente e triste deve ser aquela casa sem gente, sem fogo. Sozinha, lá no alto, como que a convidar ao refúgio nas suas robustas e graciosas paredes...

Aquela casa lembrou-me Deus...

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