terça-feira, 10 de abril de 2007

Mini Campo, uma experiência diferente...

Os primeiros Mini Campos do núcleo de Lisboa realizaram-se no fim-de-semana antes do Encontro Temático de Cernache. Apesar de já terem acontecido há quase um mês, acho que vale a pena partilhar um pouco do que foi esta experiência, segundo a minha perspectiva. Ao contrário do que julgo ter acontecido com o núcleo do Porto, as nossas comunidades eram um pouco mais pequenas. Por exemplo, a comunidade onde estava integrado éramos quatro: eu, a Sofia, a Inês e o Bruno (da esquerda para a direita, na fotografia).


O nosso "Mini" foi na Casa de Saúde do Telhal, que se destina a pessoas com problemas psiquiátricos agudos, e também alcoólicos. A instituição preconiza uma reabilitação de âmbito mais alargado do que a da maioria das instituições do género, pois estas realizam apenas uma reabilitação psicossocial, o que por si só é reducionista. Essa reabilitação deve ser integral, integrando as vertentes humana e espiritual para além das vertentes somática e psicológica.

Quando chegámos ao Telhal fomos recebidos pelo Ir. Ramos. Foi ele que teve responsabilidade de nos integrar nas equipas de trabalho desta instituição, e da conversa que tivemos com ele, realço uma frase que disse e que serviu de mote para a nossa "Mini Missão": "Mais vale exceder em misericórdia do que em justiça". Meditando nesta frase, e ainda que ela tenha sido aplicada no contexto das relações dos funcionários da instituição para com os doentes, acho que posso afirmar que pode ser perfeitamente aplicada a muitos momentos da nossa vida. O Ir. Ramos também nos falou da importância do Saber Ser e do Saber Estar, pois muitas vezes basta a nossa presença, ainda que silenciosa, para preencher de uma forma significativa a vida destas pessoas tão especiais. O desafio era enorme!

No decorrer desse fim-de-semana, houve alguns momentos extraordinariamente tocantes... A missa de domingo na qual os doentes gostam de participar... O jogo de futebol em que um dos doentes fazia questão de jogar com as medalhas ao peito, e que haviam sido ganhas em provas de atletismo... As refeições em que a Sofia esgotou o reportório de histórias infantis para que alguns comessem... Os fados que um dos doentes cantava e que fazia quase questão que o ouvíssemos vezes sem conta... Episódios sem fim!

Houve outros momentos onde a partilha, a oração e a entreajuda foram fundamentais para que o nosso grupo de quatro pessoas pudesse funcionar como uma comunidade, apesar das nossas diferenças. Foi interessante como quatro pessoas tão diversas formaram uma comunidade bem simpática!

Foram momentos muito bons e enriquecedores, ainda que esta experiência tivesse sido um pouco desgastante a nível psicológico! Com esta experiência pude descobrir em mim capacidades que julgava não ter e limites que julgava serem mais estreitos! Pude finalmente descobrir o verdadeiro significado da palavra humildade e julgo ter encontrado Deus, que se manifestou das maneiras mais diversas, em cada uma das pessoas com quem contactei! Aprendi o que significa Servir e as dificuldades que isso acarreta... as frustrações que surgem amiúde por não vermos resultados do nosso trabalho e também, porque não dizê-lo, a alegria que sentimos quando um doente esboça o sorriso ternurento (ainda que babado) só por nos ver... Muito bom!

Rui

2 comentários:

Aprendiz de Viajante... disse...

Fantástico... li, fascinado e com uma pontinha de inveja, o teu depoimento!
;-)

Rui disse...

Ó Diogo, não precisas de sentir inveja, pois mais importante que a missão em si mesma, é a forma como nos entregamos a ela.

A propósito disso, chamo a atenção para o último "post" (da Ana), que é duma profundidade enorme apesar da sua simplicidade. Não precisamos ser como Francisco de Assis ou como Jesus... ;-)

Basta sermos nós próprios e em plenitude! :-)

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